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Cientistas da UFPR homenageiam analista do CNPq com descrição de gênero e espécies de borboletas

A Universidade Federal do Paraná (UFPR) mantém um dos mais ricos acervos de insetos do país, a Coleção Entomológica Padre Jesus Santiago Moure. Dentre os diversos grupos lá encontrados, estão as borboletas e mariposas, chamadas cientificamente como Lepidoptera.

Em 2017, juntou-se a esse acervo um conjunto de 16 mil exemplares de borboletas do bioma Cerrado, que haviam sido coletadas e preparadas pelo analista em Ciência e Tecnologia do CNPq Eduardo Emery. Falecido naquele ano, Emery tinha parceria com o Laboratório de Estudos de Lepidoptera Neotropical da UFPR e uma relação próxima com o professor Olaf Hermann Hendrik Mielke, o que o fez estar algumas vezes em Curitiba. “Com seu estilo amigável e moderado, conquistou muitos amigos e o respeito dos colegas. Sua esposa, Liége e demais familiares, conhecendo a admiração pela equipe e os cuidados com o acervo, doaram a sua coleção à UFPR”, relata a professora Mirna Martins Casagrande, curadora do acervo de Lepidoptera.

Por sua contribuição, Emery foi homenageado com o nome de um novo gênero de borboletas: Emeryus. O estudo foi publicado recentemente na revista Austral Entomology e contou com a participação de pesquisadores da UFPR, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), do Museu de História Natural de Londres e da Universidade da Flórida.

O gênero Emeryus

A proposta do gênero Emeryus começou durante o doutorado em Entomologia na UFPR da pesquisadora Thamara Zacca, sob a orientação de Casagrande e Mielke. Zacca fez a revisão taxonômica de dois gêneros de borboletas: o Paryphthimoides e o Cissia.  As espécies desses dois gêneros já existiam, e a revisão serviu para comprovar a necessidade de maior precisão quanto ao seu nome e suas características. “Um taxonomista vai revisar o nome desde o momento que aquela espécie foi descrita, até os dias de hoje, para que se possa detectar quais as lacunas de conhecimento que ainda se tem sobre aquele grupo”, explica Thamara, hoje pós-doutoranda na Unicamp.

Com uma bolsa-sanduíche da Capes, a pesquisadora realizou parte dos estudos no Museu de História Natural de Londres, que possui a maior coleção de borboletas do mundo. Lá, ela teve acesso a materiais descritos nos séculos XVIII e XIX e aos exemplares utilizados na nova descrição.

O estudo concluiu que algumas espécies de Paryphthimoides estavam alocadas de maneira equivocada. Zacca passou a compará-las e, durante o pós-doutorado, fez comprovações de ordem genética. “Depois de analisar tudo isso, chegamos à conclusão de que o correto seria descrever um novo gênero, de modo que ficasse natural”, explica a pesquisadora.

Das 13 espécies de Paryphthimoides conhecidas até a revisão, quatro foram mantidas nesse gênero, três foram transferidas para o novo gênero Emeryus (Emeryus argulusE. difficilis E. numeria), duas para Cissia e outras quatro que serão tratadas em publicações futuras sob novas combinações taxonômicas.

Acesse o texto completo do artigo aqui.

Novas espécies 

A contribuição de Emery ao acervo da UFPR também propiciou a identificação de novas espécies de borboletas.

Em 2010, o atual pós-doutorando em Entomologia da UFPR Diego Dolibaina conheceu Eduardo Emery, que cedeu informações que viabilizaram a descrição da Rufocumbre emery“Tivemos a ideia de nomeá-la como demonstração do nosso respeito, admiração e reconhecimento pelo seu esforço em conhecer a fauna de Lepidoptera. Infelizmente a homenagem tornou-se póstuma com o advento de sua inesperada e precoce partida”, pontua Dolibaina.

O pesquisador explica que as borboletas que pertencem ao grupo do qual a Rufocumbre emery faz parte são pouco documentadas ou ausentes na maioria das grandes coleções biológicas do mundo.

Por isso, em sua visão, esforços para o conhecimento da biodiversidade são louváveis, de relevância e deveriam ser popularizados no país. “Eles contribuem para o avanço no conhecimento das grandes lacunas sobre a biodiversidade do grupo, especialmente frente à rápida ocupação humana dos ambientes naturais e ao baixo número de pesquisadores atuando no Brasil”.

Já o biólogo e doutorando em Entomologia da UFPR, José Ricardo Assmann Lemes iniciou a análise de borboletas do gênero Aricoris durante o mestrado realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Lemes explica que na revisão taxonômica, quando dois ou mais indivíduos têm formas muito parecidas, os pesquisadores assumem serem uma única espécie. Entretanto, quando se utiliza outras fontes, tais como dados genéticos e de comportamento, descobre-se que essas espécies são diferentes.

Para a revisão, o doutorando visitou a coleção doada pela família de Emery. Com isso, ele descobriu que alguns exemplares identificados inicialmente como Aricoris tutana eram diferentes entre si. Sendo assim, um novo nome deveria ser escolhido para um deles: Aricoris emeryi.

As borboletas que José observou foram coletadas por Eduardo Emery em 2009 no Parque Nacional de Brasília. Assim, Lemes e os coautores do estudo, Lucas Kaminski e Curtis Callaghan, sugeriram homenagear Eduardo com a descrição dessa nova espécie.

 

INFO BORBOLETAS

(Re)conhecimento

As espécies descritas pelos pesquisadores são endêmicas do Cerrado, um dos biomas mais ameaçados no Brasil pelo desmatamento e queimadas. Eduardo Emery contribuiu com o conhecimento de várias espécies por meio dos levantamentos que realizou na região. “O que a gente tinha de conhecimento de borboletas do Cerrado se deve muito ao trabalho dele”, resume Thamara.

Na visão de Lemes, identificar novas espécies é o primeiro passo para buscar sua conservação, instigando políticas públicas que priorizem a proteção do bioma. “É muito importante entender que quando protegemos um ecossistema, estamos protegendo todas as espécies que ali habitam”, afirma.

Hoje no Brasil existem cerca de 3500 espécies de borboletas. De acordo com os pesquisadores, ainda há potencial para novas descobertas. “Por isso é importante incentivar a pesquisa de base, conhecer o que temos no nosso país e a partir disso fazer outros tipos de estudo. Tudo começa com a taxonomia”, sintetiza Thamara Zacca.

A professora Mirna lembra ainda que os nomes de novas espécies são uma forma de homenagear pessoas que se destacaram no desenvolvimento da pesquisa e da ciência. Nos últimos anos, o Laboratório de Estudos de Lepidoptera Neotropical homenageou vários pesquisadores, dentre eles as professoras Danúncia Urban, uma das fundadoras do Departamento de Zoologia e Graciela Inês Bolzón de Muniz, vice-reitora da UFPR.

Por Louiselene Meneses, sob orientação de João Cubas

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