A Campanha “Vacina UFPR” completa quatro meses de arrecadação para o desenvolvimento de uma vacina 100% nacional contra a covid-19 e outras doenças.
Até o momento, foram arrecadados mais R$ 1,5 milhão. Desse total, R$ 182 mil foram obtidos por meio de 1200 doações, sendo R$ 85 mil de um repasse realizado no final de outubro pelo Ministério Público do Trabalho no Paraná (MPT-PR).
O restante foi captado com financiamentos via Rede Vírus, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a recursos próprios da UFPR e aos do Governo do Estado do Paraná.
Há ainda uma parceria que está sendo formalizada com o Governo do Estado do Paraná, que disponibilizará em breve R$ 18 milhões para infraestrutura vinculada ao Programa de Imunizantes da UFPR.
A equipe responsável pelo desenvolvimento da vacina estima que sejam necessários R$ 76 milhões para a conclusão do programa, que envolve a aquisição de insumos, de infraestrutura e o pagamento de pessoal.
Com os recursos disponibilizados até agora, foi possível a contratação de dois bolsistas de doutorado e um de mestrado, que aumentaram a força de trabalho disponível para os estudos. “São profissionais altamente qualificados, que já têm conhecimento do trabalho em laboratórios e experiência em pesquisas na área”, explica o professor Emanuel Maltempi de Souza, que coordena o estudo sobre a vacina da UFPR. Além disso, o valor recebido foi utilizado também para a compra dos insumos necessários para os experimentos.
Novas proteínas
A técnica da vacina da UFPR consiste na produção de nanopartículas que imitam os antígenos do vírus e ativam o sistema imune contra a doença. A nanopartícula envolve uma preparação com uma proteína do vírus originada da bactéria Escherichia coli. Com essa solução, não é necessário o uso do vírus Sars-Cov2 para a produção da vacina.
A equipe iniciou os testes com outra proteína do vírus, dessa vez derivadas de células humanas. Por ser mais parecida com a proteína do coronavírus, ela pode propiciar uma reação mais eficiente contra a covid-19.
Essa preparação foi inoculada em camundongos. Os testes estão em andamento, porém, os resultados preliminares indicam que a proteína funciona na imunização dos animais. “Essa seria a nossa primeira opção vacinal, por ser mais próxima do vírus. Nossa perspectiva é que ela produza mais anticorpos, em relação aos testes já realizados com a proteína sintética vinda da bactéria”, explica o professor Emanuel.
Próximos passos
Esses testes fazem parte da fase pré-clínica e devem ser concluídos em breve. Assim, será possível solicitar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a autorização para testes em humanos.
Para a conclusão dos testes pré-clínicos, é necessária a conclusão de alguns ensaios, conforme quadro abaixo:
De acordo com Souza, a equipe pretende iniciar o ensaio de neutralização ainda em 2021, nos laboratórios do Instituto Carlos Chagas (ICC), que possuem o nível de biossegurança necessário para manipulação de microrganismos patogênicos, como o SarsCov-2. Os testes com os anticorpos ocorrerão com os dois tipos de proteína (de bactéria e de células humanas).
Existe a previsão de que a UFPR também tenha, até o final de 2022, laboratórios próprios em que seja possível a manipulação dos vírus. “Isso será uma grande conquista para as pesquisas virológicas na universidade”, sintetiza o pesquisador.
Como doar
Para contribuir com a Vacina UFPR, basta doar qualquer valor, por depósito, transferência bancária para a conta da campanha ou usando chave Pix. Os valores são administrados pela Fundação da Universidade Federal do Paraná (Funpar). Todo o recurso recebido de pessoas físicas e jurídicas irá para a conta do Programa de Imunizantes da UFPR e está disponível no Portal da Transparência da Funpar em até dois dias úteis.
No site vacina.ufpr.br, além da atualização dos valores captados, é possível acompanhar notícias sobre o andamento dos estudos com o imunizante.
O Superintendente de Parcerias e Inovação (SPIn) da UFPR, Helton José Alves destaca que “embora a estimativa de custo para o desenvolvimento da Vacina UFPR seja uma das menores dentre as iniciativas similares em andamento no Brasil, os recursos necessários para a execução do Programa são volumosos, sendo muito importante ampliar a mobilização envolvida na captação de recursos, para garantir que as pesquisas não parem”.
Souza ressalta que, sem o valor obtido até agora, não haveria avanços na pesquisa. “Sem essas doações, estaríamos parados. Se a gente tiver sucesso, acredito que essa doação irá reverter em ganhos à sociedade. Temos a intenção de que a fórmula da vacina seja transferida para produção a custo reduzido para a população brasileira”, conclui.
Por João Cubas (Aspec/SCB/UFPR)