Setor de Ciências Biológicas

Pesquisas apresentam contribuições da Fisioterapia no tratamento de Parkinson e na estimulação de bebês

Mesmo com as limitações impostas pela pandemia de Covid-19, os estudos do grupo de pesquisa “Fisiopark – Alegria em movimento”, do Programa de Pós-Graduação em Educação Física da UFPR continuam apresentando resultados.

A seguir, alguns trabalhos que foram defendidos nos últimos meses, sob orientação da professora Vera Lucia Israel, do Departamento de Prevenção e Reabilitação em Fisioterapia da UFPR, com soluções que contribuem no tratamento de pessoas com doença de Parkinson e em crianças na fase inicial de desenvolvimento. Como Vera costuma se referir aos trabalhos, é a fisioterapia “do bebê ao vovô”. Confira!

Programa de exercícios no solo e na água

Desenvolver um programa de exercícios aquáticos para fortalecer a musculatura em pessoas com a doença de Parkinson. Esse foi o objetivo da pesquisa de Juliana Siega, que defendeu recentemente sua dissertação de mestrado em Educação Física pela UFPR.

Para isso, Juliana avaliou 18 indivíduos com a doença, que se submeteram a 24 sessões, com avaliações em solo, triagem do estado mental, qualidade de vida, equilíbrio e função muscular. Na parte aquática, a pesquisadora verificou como os pacientes se ambientavam ao meio líquido e orientou exercícios terapêuticos especializados.

A pesquisa de Juliana apontou melhoras em aspectos contextuais e corporais como força e potência muscular; equilíbrio; marcha e qualidade de vida aos participantes. Ela ressalta ainda a importância de se aplicar exercícios combinados em solo e água. “Exercícios multicomponentes envolvem a associação de treinamentos de força muscular, capacidade cardiorrespiratória, equilíbrio/flexibilidade e surgem em detrimento aos treinamentos isolados”.

A mestre explica que os estudos em ambiente aquático ainda são exponencialmente menores do que realizados em solo. “Além disso, nosso programa de intervenção composto por exercícios aquáticos multicomponentes foi inovador e são um diferencial a nível de intervenção e de avaliação, principalmente no que diz respeito a utilização do dinamômetro isocinético, padrão ouro para avaliação da função muscular”.

Ainda na visão de Juliana, em estágios iniciais da doença, os exercícios físicos atuam na redução da degeneração neuronal e consequentemente na desaceleração da progressão da doença. A ativação de neurotransmissores (como dopamina, serotonina e norepinefrina) também são benefícios proporcionados pelo exercício, atuam na manutenção e melhora do funcionamento dos circuitos motores comprometidos no Parkinson.

Juliana defendeu seu mestrado em fevereiro, pouco antes do início da pandemia. Foto – arquivo pessoal

Juliana defendeu seu mestrado em fevereiro, pouco antes do início da pandemia. Foto – arquivo pessoal

Fisioterapia aquática e respiração

A respiração é um dos fatores mais comprometidos em pessoas com a doença de Parkinson.  A pesquisa desenvolvida por Bruna Yamaguchi, fisioterapeuta e doutora em Educação Física pela UFPR, buscou verificar como a Fisioterapia Aquática contribui no tratamento da doença. De acordo com Bruna, a degeneração do sistema nervoso, o sedentarismo e alterações posturais podem contribuir com a redução de volume de ar que entra nos pulmões, levando ao desuso da capacidade respiratória.

Nesse contexto, a prescrição de exercícios físicos torna-se fundamental para o desenvolvimento não só da respiração, mas para o controle da doença como um todo. “Apenas o exercício físico é capaz de reduzir a progressão da doença de Parkinson, atualmente. Não existe tratamento cirúrgico ou medicamentoso comercial (exceto estudos científicos que podem estar avançando nessa área) que ajude a reduzir a progressão do Parkinson”, explica a pesquisadora.

Bruna ressalta que a imersão na água gera a pressão hidrostática, que estimula fortalecimento muscular do diafragma, músculo envolvido na respiração, incrementando a capacidade pulmonar.  A temperatura da piscina (aquecida a 33°C) também ajuda a diminuir a rigidez muscular.

Na pesquisa orientada pela professora Vera Israel, 24 pacientes do Hospital de Reabilitação Ana Carolina Moura Xavier frequentaram a piscina duas vezes na semana, durante 45 minutos. A terapia na água envolveu exercícios de ambientação (caminhar sem segurar nas barras da piscina ou soltar o ar dentro da água), de domínio do meio líquido (flutuar e voltar a ficar em pé na piscina) e exercícios especializados, por exemplo, caminhar, correr, saltar, sentar e levantar entre outros. Ao final, técnicas de relaxamento trouxeram movimentos amplos e lentos, controlados e coordenados pela respiração. Todos os avaliados tiveram influência positiva na força da ventilação, na resistência ventilatória e no volume de ar que o paciente é capaz de mobilizar.

A fisioterapeuta explica que exercícios físicos corretamente prescritos agem no combate ao sedentarismo e na geração de estímulos que compensem ou substituam o “circuito” neurológico comprometido do paciente com doença de Parkinson. “Buscamos essa melhora pensando na qualidade de vida do paciente que terá maior conforto e capacidade de realizar atividades do seu dia a dia”, pontua Yamaguchi.

Exemplo de atividade de fisioterapia aquática aplicada na pesquisa de Bruna Yamaguchi. Foto – arquivo pessoal

Exemplo de atividade de fisioterapia aquática aplicada na pesquisa de Bruna Yamaguchi. Foto – arquivo pessoal

Estímulo de bebês

A Fisioterapia, com ações precoces, visa amenizar os fatores de risco e otimizar os fatores de proteção para que a criança tenha um desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) pleno.

Nesse sentido, a doutora em Educação Física da UFPR Luize Bueno de Araujo desenvolveu uma pesquisa com 76 crianças em oito creches públicas e conveniadas em Curitiba. Ela elaborou e avaliou os efeitos de um programa de intervenção precoce em crianças com avaliação aquática em bebês de até dois anos de idade, além de caracterizar o DNPM em crianças de 4 a 18 meses de vida.

Luize iniciou sua formação em 2006 no curso de Fisioterapia da UFPR Litoral e desde então desenvolve ações de ensino, pesquisa e extensão em creches, com envolvimento da família e escola com ações de saúde da criança. “A experiência de doutoramento possibilitou o aprimoramento do ‘ser professor’, algo que me encanta e faz que eu possa cada vez mais desenvolver estratégias metodológicas para o processo de ensino-aprendizagem. O lado ‘ser pesquisador’ também está em construção, com o objetivo de colocar em prática a Fisioterapia baseada em evidências. Do ponto de vista social, sempre que penso em um projeto, procuro refletir sobre sua repercussão na sociedade”, reflete Luize.

De acordo com a fisioterapeuta, o trabalho proporcionou para crianças em condições sociais e econômicas desfavoráveis “um programa de qualidade, com uma diversidade de estímulos que talvez elas não tivessem outra chance de participar”. Além disso, devido ao envolvimento com as creches, ela esteve em contato com as crianças em uma fase crítica, e fazer encaminhamentos, quando necessário, de forma precoce, com foco na prevenção.

Exemplo de estimulação em crianças realizadas durante a pesquisa de Luize Bueno. Imagem – arquivo pessoal

Exemplo de estimulação em crianças realizadas durante a pesquisa de Luize Bueno. Imagem – arquivo pessoal

Dança 

Propor um programa de exercícios de dança contemporânea para pessoas com doença de Parkinson (DP) realizarem em casa. Esse foi o objetivo da tese de doutorado da pesquisadora Manoela de Paula Ferreira. A pesquisa foi desenvolvida em Curitiba em uma parceria da UFPR com a Associação Paranaense de Portadores de Parkinsonismo (APPP) e também buscou verificar o perfil funcional de pessoas no estágio intermediário da DP.

O programa de exercícios domiciliares de dança, realizado 3 vezes por semana; 30 minutos cada dia; por meio de vídeos gravados em DVD, foi bem aceito pelos participantes do estudo. Manoela relata que todos tiveram facilidade em dançar sem sair de casa. “Houve incremento sobre aspectos de função cognitiva, humor, qualidade e vida, equilíbrio e mobilidade funcional após o programa de exercícios domiciliares de dança”, resume.

Um exemplo dos vídeos produzidos pode ser acessado aqui

Atualmente, Manoela realiza pós-doutorado no Canadá, na Universidade de Toronto. Hoje, a atual doutora tem organizado vídeos de dança para pessoas que aguardam transplante de rim, fígado, coração e pulmão. Os vídeos ainda estão em fase de construção, mas já estão disponíveis aqui.

A intenção é facilitar o acesso dos seus pacientes às terapias, reduzindo as barreiras de acesso à programas de exercício físico.

Manoela propõe exercícios que podem ser feitos em casa pelos pacientes. Imagem - reprodução youtube

Manoela propõe exercícios que podem ser feitos em casa pelos pacientes. Imagem – reprodução youtube

Do bebê ao vovô

Iniciadas na UFPR em 2006, as pesquisas que envolvem fisioterapia aquática e desenvolvimento neuropsicomotor estimulam a produção de conhecimento sobre a área e as possibilidades de intervenção de forma preventiva, além de apoiar estratégias de políticas públicas para o desenvolvimento infantil.

No livro em comemoração aos 15 anos do curso de fisioterapia da UFPR, a professora Vera destaca a importância dessas ações. “Devemos ‘sempre estar à frente dos tempos’, compartilhando saberes e vivências do ‘bebê ao vovô’, nas diferentes e inovadoras áreas e funções do fisioterapeuta hoje (…), com olhares biopsicossociais e espirituais”, conclui.

 

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