A International Association for Suicide Prevention designou o dia 10 de setembro como Dia da Prevenção do Suicídio. No Brasil, desde 2015, o mês todo é denominado Setembro Amarelo pela mesma causa.
O tema do suicídio é relevante para o cotidiano na academia, mesmo que não o discutamos abertamente, pois em nossa sociedade o suicídio é tratado como tabu. Não raro, surgem comentários preocupados com o estado emocional de alunos ou colegas. Só que, entre o receio e o desconhecimento, prevalece a negação do problema. O silêncio alimenta a passividade quando deveria incitar proatividade e engajamento entre educadores e estudantes.
Devido à sua relevância em termos numéricos, os atentados contra a própria vida são considerados pela Organização Mundial de Saúde como problema de saúde pública, sendo uma das maiores causas de morte entre os 15 e 29 anos de idade, em todas as regiões do mundo.
Nesse contexto, cabe à universidade, além de investigar o tema, difundir os resultados de suas pesquisas e, acima de tudo, aplicar formas de enfrentamento. Flavia Adachi, responsável pela área de saúde mental da secretaria municipal de saúde de Curitiba, sugere 3 “As”: Atenção, Acolhimento e Ação.
De qualquer forma, o atentado contra a própria vida revela um sofrimento impactado por diversos fatores, dentre os quais o cotidiano universitário. A ideação do suicídio não é desconectada da realidade. O indivíduo geralmente dá sinais de que se encaminha para um desfecho nefasto para si e para seus próximos. Tais sinais culminam em uma quebra acentuada no seu modo de viver e uma perda de sentido, que transita pela ambigüidade entre o querer morrer e o querer viver de maneira diferente. Poder discutir isso abertamente com pessoas de confiança é um fator de proteção.
Aos que se deparam com alguém em risco, é importante saber que a causa é mais complexa do que os motivos evidentes. Os jovens que ameaçam o suicídio devem ser levados a sério, pois não querem apenas chamar a atenção. Eles desejam dar fim a um sofrimento e não vêem outra possibilidade de resolver seus problemas. É preciso conversar sobre o assunto, extravasar, expressar-se para não sufocar o sentimento.
Segundo a American Psychological Association (APA), não há sinais de alerta evidentes que deixem claro que alguém vai se matar. Entretanto, há fatores de risco como: perda familiar, problemas de saúde e econômicos, reprovações na academia, sentimentos de desesperança, culpa, inutilidade, vergonha, assédio moral, entre outros. Por outro lado, há fatores de proteção elencados pela APA, como: autoestima positiva, ter propósitos na vida, apoio familiar, amizades, crenças culturais que promovem uma vida saudável.
Em consonância com estas ações, podemos depreender a produção do cuidado nas universidades: produzir interações positivas com os alunos, aumentar os retornos positivos sobre a produção acadêmica e comportamentos, não usar só as críticas como avaliação, não humilhar ou ridicularizar (muito menos em público), reprovar contundentemente atitudes desrespeitosas entre colegas, monitorar situações de isolamento entre os alunos e intervir para que não ocorram, criar um ambiente onde a expressão do pensamento e do erro seja segura, entender o erro sob uma ótica construtiva, limitar ou controlar o acesso a equipamentos, instrumentos ou espaços que favoreçam práticas de violência.
Mas o que fazer naqueles casos em que o jovem nos procura em condição de risco iminente de pôr em risco sua própria vida? A principal recomendação é falar de forma calma, não acusatória ou preconceituosa, transmitir interesse pelo bem-estar dele, fazer declarações que transmitam que você tem empatia pelo seu sofrimento e o que o incentive a buscar ou aceitar que você busque ajuda profissional. Se alguém no ambiente universitário se abrir com você, foi porque o elegeu por algum motivo como confiável. Então, não fuja dessa responsabilidade! Trate do assunto do suicídio sem naturalizá-lo e busque na instituição alguém que possa ajudá-lo a conduzir a situação. É importante mobilizar a instituição e acompanhar se ela está dando conta de ajudar quem se encontra em situação de risco.
De acordo com a professora Maria Virgínia Cremasco, do Departamento de Psicologia, a UFPR oferece serviços para quem precisa de ajuda. Alunos da UFPR podem procurar a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (R. Ubaldino do Amaral, 321) ou a Casa 4 (Campus Agrárias). Pessoas externas à UFPR podem procurar o Centro de Psicologia Aplicada, na Praça Santos Andrade. Casos de ideação ou de sobreviventes são atendidos de forma rápida. Em casos de tentativa de suicídio, a condução é uma unidade de pronto atendimento (UPA) mais próxima, onde terá o atendimento de urgência e encaminhamento posterior aos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). |
Por Francine Rocha