Setor de Ciências Biológicas

Professores da UFPR realizam levantamento epidemiológico de pacientes diagnosticados com doença rara no Sul

Estima-se que existam hoje em torno de seis a oito mil doenças raras. Mundialmente há mais de 350 milhões de pessoas acometidas por essas patologias, que podem afetar as capacidades físicas, mentais, comportamentais e sensoriais do indivíduo.

Por não estarem entre as doenças que mais acometem a sociedade, as doenças raras tornam os pacientes e seus familiares isolados e vulneráveis. Entre as doenças raras conhecidas 80% são de origem genética, envolvendo um ou vários genes ou anormalidades cromossômicas.

Com a intenção de reverter essa situação, buscando dar base para mecanismos de suporte aos portadores e familiares, um grupo de pesquisadores da UFPR – Simone Benghi Pinto, Rui Fernando Pilotto e Marivone Valentim Zabott – estão trabalhando para traçar o perfil epidemiológico, na região sul do Brasil,  de pacientes de uma dessas doenças raras: a adrenoleucodistrofia (ADL).

A pesquisadora responsável pelo trabalho, Simone Benghi Pinto, do Departamento de Patologia Básica, do Setor de Ciências Biológicas, explica que a meta do estudo é fornecer subsídios que reforcem a necessidade de promover o diagnóstico precoce da adrenoleucodistrofia como uma das prioridades de saúde pública no Brasil. Além disso, há um movimento paralelo do grupo no sentido de esclarecer a população sobre os sintomas e exames, para viabilizar o tratamento e acompanhamento da doença de forma precoce.

O levantamento aborda características socioeconômicas, aspectos clínicos da doença, condições laboratoriais para confirmação do diagnóstico de adrenoleucodistrofia, dados sobre assistência média e de aconselhamento genético dos familiares.

Simone espera que com o resultado da pesquisa seja possível demonstrar os elementos de vulnerabilidade relacionados aos diagnósticos, tratamentos e cuidado na área de saúde da criança portadora da mutação no gene.

“Dessa forma conseguimos mostrar a importância do diagnóstico por meio de análise molecular para o gene ABCD1 de familiares de pacientes já diagnosticados com a adrenoleucodistrofia, possibilitando o diagnóstico precoce e podendo ter maiores chances de encaixar-se no grupo de candidatos ao transplante de medula óssea. Além da análise molecular os familiares necessitam receber aconselhamento genético sobre futuras gestações”.

Quando ocorre o diagnóstico precoce é possível a realização do transplante de medula óssea, quando ocorre de forma tardia o tratamento é paliativo e o prognóstico é de dois a três anos de vida.

leucosdistrofias

Setembro é o mês de consciência sobre as Leucodistrofias. A associação “Familia ALD” promove no site e nas redes sociais esclarecimentos, com o fim de mudar o panorama de falta de informação sobre a ALD no Brasil. Imagem – Reprodução

O que é a ADL e quais os sintomas?

A adroneleucodistrogia é uma doença genética rara, ligada ao cromossomo X, sendo caracterizada pelo catabolismo inadequado dos ácidos graxos de cadeia muito longa completamente saturados. Quando paciente apresenta a mutação e é afetado ocorre um comprometimento neurológico grave.

Pesquisas mostram que a forma clássica ou infantil da doença manifesta-se em garotos com idades entre cinco e 12 anos. As primeiras manifestações da doenças consistem em alteração de comportamento, dificuldades no processo de aprendizagem, seguidos por desmielinização progressiva do Sistema Nervoso Central, com perda visual, alteração no modo de andar e correr, surdez, disfagia, convulsões e demência, conduzindo a um estado neurovegetativo.

Diagnóstico precoce: a importância para salvar uma vida

Gabriel, Felipe e Theo tiveram uma infância normal e saudável até que a doença começou a se manifestar. Os meninos, portadores da adroneleucodistrofia são portadores da mutação, que ocasiona a doença, mas só por volta dos seis anos ela se manifestou com pequenas alterações comportamentais e físicas que chamaram a atenção na escola e na família.

A doença, que é degenerativa, evolui muito rápido, portanto, cada momento é importante até o fechamento do diagnóstico, explica Simone.

Linda Franco, mãe de Gabriel, falecido em decorrência da ADL, conta da dificuldade que passou para conseguir um diagnóstico.

“Foram meses sem saber o que era. E é assim que ocorre com muitas famílias. Sabemos que a maior parte dos diagnósticos só é feito com os sinais e sintomas já muito avançados, quando a criança fica agressiva, com falta de atenção, pele escura e problemas na visão e para andar. E quando esses sintomas aparecem, pode ser tarde demais para o tratamento, o transplante.

Mas como fazer o diagnóstico anterior a esses sintomas? Uma das saídas é inserir o teste para adrenoleucodistrofia dentro do teste do pezinho, assim a família já saberia que a criança é portadora da doença ao nascer. O objetivo do teste é diagnosticar precocemente essas doenças, já que quanto mais cedo forem identificadas, melhores são as chances de tratamento”, lembra Linda, que hoje mantém um site com informações sobre a doença e compartilha sua experiência com outras famílias.

Foi por meio do site de Linda que as famílias de Felipe e Theo encontraram informações sobre a ADL. As histórias delas são muito parecidas: mudanças no comportamento da criança, alteração na cor da pele, uma maratona de médicos e exames para descobrir o que há de errado. Uma corrida para conseguir fechar um diagnóstico a tempo do transplante de medula ainda ser uma via para desacelerar o desenvolvimento da adrenoleucodistrofia.

Nesse processo, desgastante, as famílias são indiretamente afetadas pela doença. O desgaste emocional e a falta de suporte, mesmo para os que tem plano de saúde, elevam o grau de estresse e fadiga dos membros, que assistem, impotente, a alteração física, comportamental e mental de crianças que pareciam estar saudáveis.

Monica Belich, mãe de Felipe, conta que conseguiu fechar um diagnóstico em 20 dias e a tempo do filho estar apto a passar por um transplante de medula. Foram dois transplantes até que desse certo. Mesmo assim, após aproximadamente 18 meses do segundo transplante, a doença avançou e deixou Felipe sem o movimento das pernas, sem a fala e com capacidade visual afetada.

Laura Pinto Pinheiro, mãe de Theo, conta que mesmo tendo diagnóstico rápido o filho não se encaixava mais nas possibilidades de transplante, dado o estágio avançado da doença.

“O meu filho estava saudável, eu não conseguia entender, assimilar o que estava acontecendo. De repente ele começou a cair muito, andar diferente, perdeu a visão, a audição. Infelizmente para ele o transplante já não adiantaria. Hoje eu sei que ele vai partir. Pode ser a qualquer momento, mas é diferente para uma mãe saber que seu filhinho pode ir num acidente de carro ou ficar torcendo para que o dia que ele parta seja tranquilo, em casa”.

O estudo, já aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, está sendo realizado no Departamento de Patologia Básica do Setor de Ciências Biológicas, tendo o envolvimento do Departamento de Genética do Setor de Ciências Biológicas e do Departamento de Biociências do Setor de Palotina, e o apoio do Grupo Brasileiro de Doenças Raras “Família ALD”.

Por Superintendência de Comunicação Social da UFPR

Redes Sociais

UFPR no Facebook UFPR no Twitter UFPR no Youtube
Universidade Federal do Paraná
Setor de Ciências Biológicas
Avenida Coronel Francisco H. dos Santos, 100
Caixa Postal: 19031 - Fone: (41) 3361-1799
Centro Politécnico - Jardim das Américas
CEP: 81531-980 - Curitiba (PR), Brasil

UFPR no Facebook UFPR no Twitter UFPR no Youtube
Setor de Ciências Biológicas
Av. Cel. Francisco H. dos Santos, 100
Caixa Postal: 19031 - Fone: (41) 3361-1799
Centro Politécnico - Jardim das Américas
CEP: 81531-980 - Curitiba (PR), Brasil

Imagem logomarca da UFPR

©2024 - Universidade Federal do Paraná - Setor de Ciências Biológicas

Desenvolvido em Software Livre e hospedado pelo Centro de Computação Eletrônica da UFPR