Os mais de 50 anos dedicados à educação e à ciência renderam à técnica de laboratório Roseli Aparecida Rocha Prado o tÃtulo de Servidora Emérita da Universidade Federal do Paraná (UFPR) no final de julho. A concessão foi aprovada durante a última reunião do Conselho Universitário (COUN) da instituição.
Nascida em 1946, na cidade Rolândia, a 20km de Londrina, no Paraná, Roseli conta que gostava de fazer experimentos desde a infância, quando fuçava os livros dos irmãos mais velhos. Nos anos 1960, se mudou para Curitiba, onde iniciou o curso técnico em QuÃmica Industrial e, em março de 1967, começou a estagiar no Departamento de BioquÃmica da UFPR, orientada pela professora Elma Suassuna. A efetivação, à época como celetista, veio um mês depois.
A técnica trabalhou na esterilização de recipientes e no preparo de soluções e dava auxÃlio especializado para professores e alunos de graduação. Em 1995, se aposentou, mas seguiu no setor a convite do professor Fábio Pedrosa. Desde então, atua junto a um grupo que pesquisa fixação de nitrogênio.
Ao longo de sua trajetória, dona Rose, como é conhecida na universidade, participou de várias transformações da instituição, incluindo a criação do Departamento de BioquÃmica (antes Instituto de BioquÃmica) e a transferência do Setor de Ciências Biológicas do Centro de Curitiba para o Centro Politécnico.
A técnica se lembra com carinho de quando a biblioteca de BioquÃmica chegou à nova sede. “Os livros eram a menina dos olhos da professora Glaci Zancan e trouxemos as coleções em ordem, prontinhas para serem encaixadas nas prateleiras”, diz a emérita se referindo à pesquisadora com quem trabalhou por anos.
Roseli diz ainda que sua maior satisfação sempre foi ver estudantes que se formavam e voltavam para a universidade após passarem em um concurso público. Esse foi o caso de Pedrosa, que entrou como aluno quando a técnica já estava no laboratório, mas retornou como professor e a convidou para seu grupo de estudos.
Além de ter contribuÃdo com a formação de centenas de turmas, a servidora também inspirou a trajetória profissional de seus filhos: dos quatro, uma se formou em QuÃmica Ambiental e outro ingressou no Núcleo de Concursos da UFPR. Embora as duas outras tenham seguido caminhos distantes da UFPR e dos laboratórios (uma é psicóloga e a outra graduada em Ciências Atuárias), acompanhar o trabalho da mãe fez toda diferença na formação delas também. “Meus filhos sempre vinham à universidade comigo e conheciam minha rotina”, diz.
Viúva, Roseli cuidou das crianças sozinha por anos. “Tive ajuda da minha mãe, mas nunca deixei de sonhar com uma creche, prometida uma vez ao setor”, lembra. Além dos desafios de mãe, a técnica enfrentou entraves comuns entre as mulheres da segunda metade do século 20. “Quando cheguei a Curitiba, tentei estágio em uma fábrica de fósforos, depois em uma empresa de cerâmicas, mas era muito difÃcil abrirem as portas para uma mulher”.
Após ingressar no Instituto de BioquÃmica, desenvolveu sua carreira na instituição ao lado de outros contemporâneos como Palmiro Francisco Franco, do Museu de Anatomia, também nomeado emérito, e Marilza Doroti Lamour, do mesmo grupo de estudos de Rose, e falecida no dia 3 de agosto. Roseli se emociona ao falar da parceira e amiga e se diz grata por ter aprendido tanto ao lado dela.
Disposta e ativa, dona Rose não pretende deixar a universidade tão cedo, por amar o que faz, mas também adora a vida fora do laboratório. Um dos seus hobbies é passear com os netos, que hoje são nove, e ver as transformações da cidade. Além disso, gosta de fazer piqueniques, assistir a séries e recentemente se tornou uma das mais fieis adeptas dos doramas, novelas sul-coreanas que viraram sensação nos últimos anos.