O químico Deonir Agustini, do Centro de Microscopia Eletrônica da UFPR, teve sua tese de doutorado indicada ao Prêmio Capes de Tese, como a melhor defendida em 2018 do Programa de Pós-Graduação em Química.
Deonir desenvolveu dispositivos de análises químicas, feitos com materiais de baixo custo, como fios de algodão e plástico, além de conexão com um aplicativo de smartphones. Ao longo da tese foram construídas cinco configurações diferentes, com custos entre 1,92 e 159,24 reais.
O pesquisador explica que para fazer a análise de uma substância é necessário que haja sinais elétricos. Para que eles sejam identificados, ele criou dispositivos com um reservatório para o eletrólito, um fio de algodão e três eletrodos, que fazem a medição das soluções e acusam a presença de substâncias. O fio esticado desloca o eletrólito para um segundo recipiente e entre os reservatórios e os eletrodos, pode-se colocar substâncias para serem analisadas. Os dispositivos podem ser aplicados para a realização de medidas de compostos, como fármacos, agrotóxicos, biomarcadores do corpo e poluentes. Na tese, foram determinados quatro fármacos (paracetamol, diclofenaco, naproxeno e hidroclorotiazida) e cinco biomarcadores (glicose, ácido ascórbico, dopamina, epinefrina e ácido úrico). Em uma das configurações do dispositivo, foi possível realizar 208 detecções em uma hora de análise.
Os dispositivos contam também com um sinal que é enviado para um aplicativo de smartphone, e os gráficos mostram a concentração que a solução possui. Há ainda a opção de conectar o aparelho via Bluetooth ou via cabo USB. “Tradicionalmente, os equipamentos que mostram a concentração dos químicos precisam ser ligados em tomada e têm grandes dimensões. Por isso, o uso do aplicativo de celular pode tornar esta análise mais fácil e rápida, em campo, na casa das pessoas”, explica Deonir.
A maioria dos materiais tem baixo custo em relação a outros que fazem análises similares, como medição de glicose e testes de gravidez, etc. Embora, a potencialidade em nível de mercado esteja em processo, o dispositivo já é usado em laboratórios na própria UFPR para identificação de fármacos e análises em fluídos corporais. O dispositivo teve patente registrada na Agência de Inovação.
Deonir ressalta as razões da importância de sua pesquisa: “Um dos principais objetivos do projeto era desenvolver dispositivos miniaturizados de baixo custo a partir de materiais baratos e de fácil aquisição (gaze hidrófila, grafite de lapiseira, tampas de plástico, barras de vidro, etc), o que às vezes é visto com desconfiança, por ser “simples demais” para funcionar como um dispositivo analítico”. Porém, os dispositivos mostraram-se confiáveis e com um bom desempenho analítico, podendo ser uma ótima alternativa para alguns tipos de análise.
A tese intitulada Desenvolvimento de Dispositivos Microfluídicos Baseados em Fios de Algodão Para Aplicações Eletroanalíticas concorrerá na etapa nacional do Prêmio Capes até o mês de setembro, e a solenidade de entrega será em dezembro.
Um dos dispositivos desenvolvidos no trabalho de Deonir, empregando fios de algodão e eletrodos de grafite para detecção eletroquímica. Foto – Arquivo pessoal