Nos dias 30 de setembro e 1º de outubro de 2024, foi realizada a I Semana Internacional de Educação FÃsica da Universidade Federal do Paraná, no auditório do Departamento de Educação FÃsica (DEF), no Campus Politécnico. O evento reuniu estudantes, professores e convidados especiais, promovendo discussões relevantes sobre a relação entre Educação FÃsica, diversidade e inclusão social.
A cerimônia de abertura contou com a presença da chefia do departamento, coordenação e representantes discentes. Logo após, a primeira palestra foi ministrada pela Professora Louise Laigroz, doutoranda na Université du Québec à Trois-Rivières, no Canadá. Ela abordou o tema “Skate, cidade e espaço social”, discutindo como o esporte se relaciona com a ocupação dos espaços urbanos e a inclusão de diferentes grupos sociais, sob a mediação da Professora Dra. Cinthia Lopes da Silva, Coordenadora do Curso de Educação FÃsica da UFPR.
Em seguida, o público foi agraciado com uma apresentação artÃstica do grupo de bateria “Os Coringas”, proporcionando um momento de descontração ao evento. A manhã foi concluÃda com uma mesa-redonda sobre “Educação FÃsica Adaptada e Inclusão”, mediada pela Professora Dra. Adriana Inês de Paula. A mesa contou com a participação do Professor Dr. Eduardo Azzini (SELAM/Piracicaba) e dos ex-alunos da UFPR, Matheus Lima de Souza e Luiz Gabriel Souza de Lucena. Matheus, ex-jogador de futebol e atual atleta de goalball, compartilhou sua trajetória escolar e acadêmica: “O ensino médio foi caótico. A universidade foi bem diferente; aqui tive boas experiências e outras desafiadoras. Cansei de chegar à aula e o professor não saber como lidar com um aluno com deficiência. A coisa mais simples é perguntar: ‘Como posso te ajudar?'”, desabafou. Luiz Gabriel, primeiro aluno surdo formado em Educação FÃsica pela UFPR, hoje atua como técnico de futebol e professor de Libras. A mesa ressaltou as vivências e os desafios da inclusão de pessoas com deficiência na Educação FÃsica, e o Professor Eduardo fez uma reflexão aos presentes: “Se você fosse cego, quem você seria em um mundo como o que estamos?”.
“A gente ainda foca na deficiência, ao invés de perguntar qual é a potência da pessoa. O que você consegue fazer? O que você está disposto a fazer?” —— Professor Dr. Eduardo Azzini, graduado e mestre em Educação FÃsica, doutor em Ciências do Movimento Humano pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP) e especialista pela Unicamp, atualmente assessor de relações sócio institucionais da Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Atividades Motoras (SELAM) de Piracicaba-SP e foi parte do departamento fÃsico da Seleção Brasileira ParalÃmpica de Tênis de Mesa na Rio 2016.
No segundo dia do evento, a programação começou com uma emocionante roda de conversa com crianças da Escola Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. O bate-papo foi organizado pela Professora Déborah de Paula e mediado pela Professora Dra. Marynelma Garanhani, oferecendo um olhar direto sobre as percepções e vivências das crianças no contexto escolar.
Em seguida, a Professora Dra. Lilian Messias Sampaio Brito, do Colégio Estadual do Paraná, apresentou a palestra “Educação FÃsica escolar e diversidade”, sob a mediação da Professora Dra. Vera Luiza Moro. O debate focou nas abordagens pedagógicas voltadas à diversidade no ambiente escolar e no papel da Educação FÃsica nesse processo. Para Lilian, “a inclusão é essencial para construir um mundo mais inclusivo e tolerante. A diversidade é uma riqueza e, na Educação FÃsica, além da promoção da saúde e do bem-estar, é fundamental adaptar estratégias para que todos os alunos possam se beneficiar, independentemente de suas limitações.”
O evento contou ainda com a participação do Coletivo WakanDEF, formado no curso de Educação FÃsica da UFPR em 2022. Surgido entre alunos e com apoio da professora Adriana Inês de Paula, o grupo tem como objetivo principal acolher estudantes recém-ingressos e também os que já estão no curso, promovendo um espaço de troca de experiências, acolhimento, alegrias e suporte frente à s opressões enfrentadas durante a vida acadêmica. A apresentação destacou como o grupo tem sido fundamental para garantir a permanência de estudantes negros e de outras minorias no ensino superior, proporcionando um espaço onde se discutem temas relacionados à diversidade e inclusão, muitas vezes negligenciados na grade curricular. Representantes do coletivo compartilharam relatos pessoais emocionantes sobre como o WakanDEF foi crucial para enfrentar os desafios e continuar na universidade. Além disso, foi ressaltada a importância de projetos que o coletivo realiza, como oficinas e debates voltados para a saúde mental e a valorização da cultura negra, fortalecendo ainda mais o sentido de pertencimento e resistência no ambiente acadêmico.
A palestra de encerramento foi proferida pela Professora Dra. Megg Rayara Gomes de Oliveira, Chefe do Departamento de Planejamento e Educação Escolar – DEPLAE, do setor de Educação. e coroou dois dias de intensa troca de conhecimentos, reflexões e engajamento sobre a importância da Educação FÃsica como um espaço de inclusão e diversidade. Ela trouxe a reflexão “Corpo e diferença”, propondo discussões sobre corpo, identidade e os desafios da inclusão social, com mediação da Professora Dra. Soraya Corrêa Domingues. Foi uma fala rica em reflexões sobre as barreiras enfrentadas por grupos historicamente marginalizados e o papel das universidades na perpetuação ou questionamento dessas estruturas.
“Cotas não comprometem a qualidade das pesquisas, muito pelo contrário, as potencializam. Para mim, é um privilégio ocupar esses espaços.”
“Quando olhamos para uma banca formada somente por homens brancos, nossas narrativas são desqualificadas. A gente precisa mudar essa realidade.”
“Se metade da população não está representada na universidade, então ela não é pública. Precisamos de outro nome para isso.”
—- Professora Dra. Megg Rayara Gomes de Oliveira, a primeira travesti negra a obter um doutorado em Educação pela UFPR, atualmente Chefe do Departamento de Planejamento e Educação Escolar – DEPLAE, do setor de Educação.
O curso de Educação FÃsica da UFPR oferece a disciplina “Educação fÃsica inclusiva”, que trata diretamente de questões como diversidade de gênero e diversidade étnica-racial. No entanto, a diversidade e a inclusão são temas transversais no currÃculo acadêmico. “Uma das razões da criação desse evento foi a necessidade de aproximar esses temas de algumas outras disciplinas indicadas no currÃculo, reforçando com docentes a importância de trabalhar essas questões em sala de aula”, explica a organizadora do evento, professora Cinthia Lopes. Ela destaca a boa circulação de pessoas no evento, em geral, que teve quase lotação máxima em algumas palestras. “Foi bastante surpreendente essa presença e apoio de discentes e docentes, alguns com disciplinas não ligadas diretamente ao tema”, diz Cinthia.
“Fazemos parte de uma universidade que prioriza essa questão da inclusão. E muitos estudantes talvez se sintam mais acolhidos à medida que esses temas vem para o debate e são priorizados nos cursos. Então essa foi uma oportunidade para isso também.” —- Profa. Dra. Cinthia Lopes da Silva, organizadora do evento e Coordenadora do Curso de Educação FÃsica da UFPR.
As gravações do evento podem ser acessadas no canal do Setor de Ciências Biológicas no youtube:
Dia 1Â
Dia 2
Por Danielle Salmória (Aspec/SCB/UFPR) – 03 de outubro de 2024