A doença de Chagas é conhecida pela transmissão do protozoário Trypanosoma cruzi através da picada do bicho barbeiro. Porém casos de contaminação oral são cada vez mais comuns no Brasil, situação que levou pesquisadores da UFPR ao Pará. “Nossos trabalhos com Trypanosoma cruzi começaram em 1997. Encontrávamos muitos animais infectados e isso despertou nossa curiosidade, pois a OMS apontava o Brasil como zona livre de transmissão da doença”, relata a pesquisadora e professora do Departamento de Patologia Básica do SCB Vanete Thomaz Soccol.
As pesquisas na área já fazem parte da rotina do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia da UFPR, mas em 2005 com o surto da doença em Santa Catarina, devido ao consumo de caldo de cana, fez com que o programa focasse na transmissão através dos alimentos. Em 2006 foram registrados os primeiros casos de pasta de açaí contaminados na região Amazônica.
O cenário rendeu parceria entre a UFPR e a UFPA (Universidade Federal do Pará). A equipe, durante quatro anos, trabalhou para assegurar o consumo do açaí, eliminando o Trypanosoma cruzi. O projeto desenvolveu o método PCR (Reação de cadeia em polimerase em tempo real) para detectar se existe ou não o T. cruzi no alimento. Esse processo dura cerca de duas horas, enquanto o método tradicional pode levar dias para apresentar resultados.
Em março, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e das Secretarias de Saúde de Belém e do Pará se reuniram para atualizar o regulamento técnico padrão de identidade e a qualidade do açaí. Quando for aprovado, exigirá que todo o açaí comercializado seja isento do protozoário e o que ministério passe a fiscalizar. Isso garantirá a qualidade do produto tanto para exportação quanto para o consumidor nacional.
Por fim, o método desenvolvido poderá servir para outros produtos, além do açaí, Vanete ressalta que o objetivo da universidade é repassar e expandir a pesquisa: “Quanto mais gente tiver acesso à metodologia, melhores exames e resultados mais rápidos serão feitos. Não é uma metodologia para ficar na prateleira, é para ser transferida para a população”. Além disso, a pesquisadora da UFPR explica que o trabalho educativo com a população, que é mantida pela produção da fruta, é de extrema importância. “É preciso ensinar os processos. Se algum fruto fica de fora, sem ter contato com a temperatura determinada pelo método, o parasito continuará vivo e vamos continuar tendo casos de doenças”.
ENTENDA A TÉCNICA DO PCR EM TEMPO REAL 1) O DNA – alvo é extraído de amostras de material biológico. 2) É preparada uma mistura – “Mix” – que contém todos os componentes necessários para a síntese de novas cópias do DNA – alvo. 3) Nas reações de amplificação estão associados compostos que emitem fluorescência e apresentam correlação direta com o número. 4) Um software específico constrói em tempo real um gráfico que corresponde à curva de amplificação, detectando que o DNA – alvo está presente na amostra. Resultados: se em uma amostra de açaí houver o DNA do Trypanosoma cruzi, o processo indicará em tempo real a contaminação, permitindo que se rejeite a batelada correspondente à amostra. O método permite a liberação imediata do produto quando não é detectada a presença do protozoário. Todo processo demora apenas 2 horas, enquanto o convencional, que em alguns casos utiliza animais de laboratório, pode levar dias. |