No Mês em que se dedica o dia 19 de abril (Dia do índio) à lembrança de que há uma diversidade pluriétnica autenticamente nativa do Brasil, a ASPEC recebeu dia 3 de abril a visita da Doutora Márcia Nascimento, que reside na Terra Indígena de Nonoai/RS, onde nasceu, atuou como professora da escola indígena por 10 anos e agora desenvolve um projeto para revitalização da língua Kaingang. Ela veio a Curitiba a convite da Banca de defesa da tese de colega servidora do SCB Francine Rocha, no PPGE.
Márcia resolveu continuar seus estudos após ser docente da Escola Indígena Peró Ga., tendo ido à UNEMAT para cursar Licenciatura em Letras. Mas foi na UFRJ que ela conseguiu estabelecer diálogos interculturais relevantes social e cientificamente. Doutora e Mestra em Lingüística, no Pós-doutorado desenvolve projeto na área de Revitalização Lingüística junto ao seu povo Kaingang – Kanhgág vĩ mré ẽg jykre pẽ jagfe (Ninho de língua e cultura Kaingang) – que trata de metodologias de transmissão intergeracional de línguas em perigo de desaparecimento. Em 2017 visitou a Massey University e “Ninhos de Língua Maori” na Nova Zelândia e entre 2014 e 2015 foi pesquisadora visitante na Universidade de Massachusetts, onde participou de seminários e reuniões do Language Acquisition Research Center (LARC) apresentando dados da língua Kaingang. Tem como principal área de interesse o estudo das línguas indígenas brasileiras, em especial a língua Kaingang da qual é falante nativa, bem como o ensino de línguas no contexto da Educação Escolar Indígena.
Márcia é mestra e doutora em Lingüística pela UFRJ. Foto – Aspec
Curiosamente, Márcia é irmã de Diana Nascimento, graduada em Gestão Ambiental pela UFPR e Mestra em Desenvolvimento Sustentável pela UNB. Enquanto se graduava na UFPR, em 2012 Diana recebeu o prêmio internacional “Indigenous and Traditional Peoples Conservation, da Conservation International”, o que a levou à Doha no Quatar, participar da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas- COP 18 e a Washington conhecer a sede da ONG Conservation International, da qual foi bolsista atuando especificamente nas áreas de Recuperação/ Restauração etnoambiental, revitalização cultural e educação socioambiental. Foi gestora da Unidade de Conservação estadual de nome Parque Estadual do Papagaio Charão/RS até 2015. Em 2015, junto com profissionais e estudantes indígenas de varias áreas do conhecimento criou o Instituto Eco Sustentável, como forma de articulação entre comunidade e profissionais indígenas, focando em projetos socioambientais, voltados a gestão territorial e ambiental na Terra Indígena Nonoai, alem de projetos educacionais e culturais.
Diana Nascimento, graduada em Gestão Ambiental pela UFPR e mestra em Desenvolvimento Sustentável pela UNB. Foto – arquivo pessoal
Esses dois exemplos evidenciam que a universidade pode e deve estabelecer diálogos interculturais a fim de avançar não apenas socialmente, mas também cientificamente com o aporte da diversidade intercultural indígena. Além disso, a exemplo de Márcia e Diana, os dados relativos aos jovens representantes de seus povos que se formaram (na UFPR foram 24 até o momento) revelam o anseio dos mesmos pela continuidade dos seus estudos, de forma a melhor se qualificarem para o estabelecimento de diálogos diretos com os não-indígenas, sem intermediários. Além disso, evidenciam o desejo de problematização de teorias que falam sobre eles sem com os mesmos dialogarem.
Aproveitemos a data para refletir sobre como podemos avançar no sentido de efetivamente valorizar a diversidade pluriétnica genuinamente brasileira que circula pelos nossos corredores!
Por Francine Rocha – ASPEC
