Há alguns anos, pesquisas mostram que medicamentos não produzem o mesmo efeito em todas as pessoas devido a variantes genéticas, muitas delas de origem africana. Além disso, grande parte dos estudos existentes não considera a ancestralidade em suas análises.
Por isso, um projeto de pesquisa e extensão da Universidade Federal do Paraná (UFPR) busca cobrir essa lacuna no conhecimento. A equipe, coordenada pelas professoras Márcia Holsbach Beltrame, do Departamento de Genética, e Claudemira Vieira Gusmão Lopes, do Setor Litoral, investiga o perfil genético e a saúde de habitantes de comunidades quilombolas do Paraná.
Com o apoio das lideranças locais, o grupo já visitou as comunidades Feixo e Restinga, no município da Lapa. Até o momento, mais de 200 pessoas foram entrevistadas, realizaram exames para detecção de anemia, diabetes, colesterol e tiveram as medidas aferidas. As amostras são analisadas no Laboratório-escola do Setor de Saúde da UFPR e os resultados são entregues em até uma semana. “Com esses dados, buscamos relacionar diagnóstico e tratamento ao que pode ou não ser válido para essas populações”, explica a professora Márcia.
Em breve, os voluntários passarão por testes genéticos, que identificarão quais povos deram origem a essas comunidades. De acordo com Claudemira, a ideia é somar os dados obtidos a trabalhos já realizados em outras regiões do Brasil. “Quanto mais estudarmos a genética dessas populações, poderemos fazer um resgate da história”, enfatiza.
As pesquisadoras pretendem divulgar os resultados já obtidos por meio de um programa de extensão, com formação continuada de professores do ensino básico. Assim será possível popularizar o conhecimento e aproximar o conteúdo produzido pelos cientistas das salas de aula.
Além disso, outras ideias já foram postas em prática. Estudantes de iniciação científica produziram vídeos e posts sobre diabetes e hipertensão. Um site produzido pela equipe explica as razões de se estudar a ancestralidade humana. Há ainda um artigo publicado recentemente sobre a influência genética na intolerância à lactose entre a população negra.
O programa conta com estudantes das áreas de ciências biológicas, da saúde, tecnologia e comunicação e está aceitando novos colaboradores. Os interessados podem entrar em contato por e-mail. “Cada um com a sua especialidade, poderá contribuir com essa divulgação, para que mesmo uma pessoa que não tenha conhecimento específico sobre o tema possa entender”, ressalta Claudemira.
Leia mais sobre o assunto no texto publicado recentemente na revista Ciência UFPR
Texto: João Cubas (Aspec/SCB/UFPR)