Nos últimos dias, a possível chegada de uma nuvem de gafanhotos ao Brasil despertou curiosidade e revelou a importância do estudo dos insetos no equilíbrio ambiental.
Existem aproximadamente 7 mil espécies de gafanhotos no mundo. Cerca de 20 delas são chamadas de locustas, grupo que se organiza em nuvens. No Brasil ocorrem duas delas: a Rhammatocerus schistocercoides e a Schistocera cancellata, sendo a segunda a responsável pela nuvem que está na Argentina.
Ângelo explica que para compreender a organização dos gafanhotos em nuvens, é necessário conhecer a estrutura e os hábitos desses insetos. As locustas têm alterações fisiológicas e comportamentais de acordo com a densidade populacional das espécies. O pesquisador explica que, desde a fase de ninfa, esses insetos já se organizam em grandes grupos. Ao surgirem as asas, eles passam a percorrer longas distâncias, chegando a 200 quilômetros em um só dia.
O docente destaca que a migração envolve uma finalidade, como a busca de alimentos; e uma direção, que é influenciada pelas correntes de vento e pelo clima. Quando uma massa de ar mais quente e outra mais fria colidem aumenta a chance de chuvas e da oferta de recursos.
O que pode explicar a explosão nos países vizinhos é a recorrência de estiagens prolongadas e o aumento das temperaturas na América do Sul. Isso faz com que uma área geográfica maior reúna condições adequadas para a nuvem em relação a anos anteriores. “Essas explosões não são consequências de fenômenos atuais. Foram anos seguidos de oportunidades, de algumas condições que favoreceram essas populações, gerando esse surto todo”, enfatiza o docente da UFPR.
Parise conta que esses insetos ocorrem regularmente no continente e que o fenômeno de migração faz parte do processo seletivo. “A questão, no momento, é saber quais elementos estão afetando o meio ambiente, que podem propiciar que essas nuvens sejam mais frequentes, maiores e que podem trazer mais danos”, alerta.
O entomólogo da UFPR ajudou seus colegas a identificar os insetos coletados no navio: uma libélula, três mariposas e 13 percevejos. A equipe comprovou ainda que o navio não transportava os insetos, o que torna o entendimento do fenômeno ainda mais complexo. Algumas perguntas permanecem sem resposta, mas sabe-se que vários fatores estimulam a migração: a genética, a disponibilidade de alimentos e o local de ocorrência dos insetos, uma vez que alguns eram nativos da Ilha de Trindade e outros do Brasil continental.
Embora haja consequências econômicas e ambientais, os gafanhotos próximos ao Brasil não trazem prejuízos diretos à saúde humana. Por isso, o professor Ângelo Parise alerta que os insetos não são vilões, já que as mudanças no planeta causadas pelo homem propiciaram a alteração e distribuição de suas populações. “Os insetos formam um dos conjuntos de espécies mais bem sucedidos na história do nosso planeta. Eles são importantes para a manutenção do clima dos ecossistemas. Essa nuvem, por exemplo, pode ser fonte de proteína para outras espécies. Por isso, temos que analisá-la sobre todos os aspectos”, conclui o pesquisador.
.
Por Louiselene Meneses, com orientação de João Cubas