“Essa menina vai ser professora, olha o jeito dela”. Ana Lúcia Tararthuch costumava ouvir coisas assim dos familiares, enquanto brincava de escolinha na infância. Hoje docente do Departamento de Fisiologia da UFPR, é uma grande entusiasta da educação superior e está à frente de iniciativas extensionistas de combate ao câncer de mama, doença com a qual foi diagnosticada em 2022.
Nascida em 27 de abril de 1963, em Curitiba, é filha de Ângela e Ari Tararthuch. A mãe é de Palermo, na Sicília, veio para o Brasil aos 12 anos e foi dona de casa até os 50, quando começou a estudar para se tornar psicopedagoga. Aos 70 já tinha terminando duas pós-graduações. “Ela é um grande exemplo para mim”, diz a docente. O pai, falecido em 2003, era curitibano e fiscal de rendas do estado. “Ele via muita coisa, mas prezava por fazer o que devia ser feito e dormir sempre com a consciência tranquila”.
Durante o Ensino Médio, Tararthuch fez um curso profissionalizante em patologia clínica, o que a levou a querer trabalhar em laboratório. Pesquisando sobre possibilidades de carreira, resolveu prestar vestibular para Ciências Biológicas na UFPR e ingressou na graduação em 1983. Foi monitora em fisiologia na faculdade, fez mestrado em Biologia Celular e Molecular entre 1988 e 1992 na mesma instituição, e doutorado em Fisiologia e Biofísica na Universidade de São Paulo (USP). A tese foi concluída em 2023 após muitos desafios, como o nascimento de seus dois filhos: Giorgio, hoje com 26 anos, e Gabriel, com 23.
Nos anos 1990, Tararthuch começou a dar aulas na PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), mas logo prestou um concurso da UFPR para docente na área de Fisiologia Comparada e passou. Desde então, se dedica ao ensino, à pesquisa e à extensão, com especial apreço por ensinar.
“Minha maior alegria é estar em sala de aula. É por isso que eu estou aqui ainda. A convivência com os jovens rejuvenesce a gente e eu não quero ter aquela cabeça tão de vovozinha”, brinca.
Seu câncer foi diagnosticado em estágio 4, grau considerado avançado, mas tê-lo detectado a tempo em uma mamografia fez toda diferença no tratamento. A fase mais difícil do processo foi entre janeiro de 2022 e março de 2023, período em que precisou se afastar da universidade, para quimioterapias regulares e uma cirurgia de mastectomia parcial.
Tararthuch também gosta de escrever e aprende muito sobre si mesma narrando a vida em diários. Sempre preocupada com as pessoas ao redor, ela conta que uma das lições mais importantes que teve recentemente foi a de jamais deixar de cuidar de si.
“Minha irmã uma vez me trouxe aquele clichê do avião, que faz muito sentido: primeiro você precisa colocar a máscara em você, depois nos outros. Do contrário, não vai conseguir ajudar ninguém. E minha perspectiva mudou”.