Nascida em 16 de agosto de 1934, em São Borja (RS), Glaci Zancan foi uma cientista e militante em prol da ciência brasileira. Formou-se em Farmácia-QuÃmica pela Faculdade de Farmácia de Porto Alegre nos anos 1950 e concluiu seu doutorado em QuÃmica Biológica na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Diante da dificuldade de encontrar emprego em sua área na região em que vivia, se mudou para o Paraná em 1960, onde foi contratada pelo Instituto de Biologia e Pesquisa Tecnológica do estado. Dois anos depois, ingressou na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e foi fundamental para a consolidação da pós-graduação em Ciências (BioquÃmica), que coordenou por mais de uma década.
Ao longo de sua carreira, Zancan trabalhou com grandes nomes da ciência internacional. No inÃcio dos anos 1960, atuou em Buenos Aires ao lado de LuÃs Federico Leloir, vencedor do Prêmio Nobel de QuÃmica, e com Henri-Gery Hers, Prêmio Wolf em Medicina, em Louvain, na Bélgica. Além de professora e pesquisadora, Zancan foi uma voz ativa na defesa da ciência e da educação no Brasil. Defendia a universalização da pesquisa nas universidades, a qualificação dos docentes e o regime de dedicação integral dos professores. Sua contribuição à cultura cientÃfica era tão importante que a imprensa a consultava com frequência para discutir temas polêmicos, como a produção de transgênicos e a regulamentação de pesquisas com células-tronco, das quais foi defensora.
Por duas vezes, a professora presidiu a Sociedade Brasileira de BioquÃmica e Biologia Molecular e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Também foi membra da Comissão Nacional de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Governo Federal e do Conselho Superior da Capes (Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de NÃvel Superior).
Nos últimos anos de sua carreira, dividia-se entre viagens, reuniões e congressos. Sua atuação foi reconhecida com importantes condecorações do Governo Federal, como a Grã-Cruz da Ordem do Mérito CientÃfico e a Ordem do Mérito Educativo. Também recebeu a Medalha do Mérito Educativo, concedida pelo Conselho Federal de Farmácia, e em 2006 foi laureada como Professora Emérita da UFPR. Ao se aposentar, disse estar segura de que haveria pesquisadores aptos a ocuparem seu lugar. “Se você não tem alunos melhores do que você, perdeu sua função de professor”, declarou à UFPR TV em 2003.
Glaci faleceu em 29 de junho de 2007, em Florianópolis, aos 72 anos. Em sua homenagem, o Governo do Paraná instituiu, em 2009, o Troféu Mulheres de Ciência Glaci Zancan, perpetuando seu legado e contribuição para a ciência e a educação no Brasil.
Confira comentários de quem conviveu com a professora, publicados no Instagram do Biológicas:
“Profa. Glaci foi minha professora de BioquÃmica Celular e de BioquÃmica Animal durante a graduação em Farmácia, e depois na Pós-Graduação em Ciências-Bioquimica. Eram sempre muito mais do que aulas! Saudades de ouvir a Profa. Glaci. Grande defensora da Universidade e da Ciência!” @thales_cipriani
“Tive a honra de conhecer e conviver com ela! ❤️❤️ uma mulher única!”@jumaurer8
“Foi um imenso prazer trabalhar e conviver com a tenacidade e inteligência da prof Glaci. Minha referencia na ciencia – e um humor maravilhoso!” @walter.boeger
“Uma honra ter sido aluna da professora Glaci Zancan. Nunca me esqueço da atenção e da simpatia de falar com ela durante as dúvidas em BioquÃmica. Fica na História da UFPR esse exemplo de professora. 👏👏” @marchuca8
“Conheci a profa Glaci!! Pessoa maravilhosa, professora excepcional!! Saudades!!🙌” @welligton.braguini
“Fui aluna da Professora Glaci Zancan durante o doutorado, entre 1994 e 1998. Lembro de uma pessoa muito ativa, caminhando apressada entre os corredores da BioquÃmica e quase sempre no seu laboratório. Profissional muito séria, seu aval era atestado de qualidade. Saudades!” @amanjos50
“Durante o mestrado, tive a oportunidade impar de ter sido aluna da Dra. Glaci. São raras as pessoas que tem a compreensão da bioquÃmica como ela tinha. Muita da minha paixão por bioquÃmica devo a ela!” @driykalac
“Tive a satisfação de ser aluno da professora Glaci em duas disciplinas na graduação. Durante os 2 anos de iniciação cientifica e 4 anos de doutorado tive oportunidade de conversar com ela várias vezes em sua sala. Ela viveu a bioquÃmica. Ela não dava aulas, dava relatos do que aconteceu nos laboratórios em diversas partes do mundo. Realmente foi uma experiência que mudou minha percepção da ciência e colaborou para a decisão de fazer doutorado no programa de Pós graduação em bioquÃmica biologia molecular. Fatos curiosos. Em dois momentos em que estacl a nos corredores peguei a professora conversando ao telefone com o presidente Fernando Henrique Cardoso e também com Lula. Ela desligava o telefone e vinha falar com a gente: “absurdo, você não vai acreditar…” E contava algum absurdo que estava acontecendo e ela diretamente falava com os presidentes para resolver. Outra vez em algum laboratório quebraram um equipamento, algo como uma cubeta. Custava um Fusca na época. Professores todos revoltados com o aluno ou aluna que fez isso. Ela dizia: só quebra equipamento aquele que está trabalhando. Quem não trabalha, não quebra nada. Memorável” @andrebmariano
Confira a entrevista completa com a professora Glaci Zancan feita em 2003 pela UFPR TV
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